Saturday 14 April 2007

Quarta sessão – Terça feira dia 29 de Maio de 2007

A Câmara fala?


“A Janela indiscreta ” de Alfred Hitchcock - 1955

Com James Stewart e Grace Kelly
Argumento: John Michael HayesBaseado numa novella de Cornell Woolrich
Música: Franz Waxman
Fotografia: Robert Burks
Montagem: George Tomasini
Produção: e Realização: Alfred Hitchcock para a Paramount


* Alfred Hitchcock – “Tratava-se da possibilidade de fazer um filme puramente cinematográfico. Há o homem imóvel a olhar lá para fora. É o primeiro bocado do filme. O segundo bocado revela o que ele vê e o terceiro mostra a sua reacção. Isto representa a mais pura expressão da ideia cinematográfica que conhecemos(….)
Pegamos num grande plano de James Stewart. Olha pela janela e vê, por exemplo, um cãozinho que alguém desce para o pátio dentro de um cesto; voltamos a Stewart: sorri. Agora, em vez do cãozinho a descer o cesto, mostramos uma rapariga nua a contorcer-se diante da sua janela aberta; voltamos a colocar um grande plano de James Stewart a sorrir e, agora, o que vemos é um tipo lúbrico!!! (…)

François Truffaut – A apresentação do filme é excelente. Inicia-se com o pátio adormecido, depois desliza para o rosto de Stewart coberto de suor, passa à perna envolta em gesso, depois à mesa onde se vê a máquina fotográfica partida e uma pilha de revistas ilustradas e, na parede, vêem-se fotografias de carros de corridas a virar-se. Por este primeiro movimento de câmara ficamos a saber onde estamos, quem é a personagem, qual a sua profissão e o que lhe aconteceu(…)

Alfred Hitchcock – Trata-se de utilizar os meios de que o cinema dispõe para contar uma história. Interessa-me mais do que pôr alguém a perguntar a Stewart: como é que partiu a perna? Stewart responderia: “estava a fotografar uma corrida de automóveis, uma roda soltou-se e veio atingir-me”. Não é verdade? Seria a cena banal. Para mim o pecado mortal de um guionista é, na discussão de uma dificuldade, escamotear o problema dizendo: “Justificaremos isto com uma linha de diálogo”. O diálogo deve ser um ruído entre outros, um ruído que sai da boca das personagens cujas acções e cujos olhares contam uma história visual(…)

* Hitchcock, dialogo com Truffaut – Publicações D. Quixote, Lisboa 1987

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