Sessões de cinema nas Terças-Feiras pelas 21h30
Dia 8 de Maio
Dia 15 de Maio
Dia 22 de Maio
Dia 29 de Maio
Dia 05 de Junho
Saturday, 14 April 2007
Ciclo "O cinema – a arte da imagem"
Às Terças feiras de Maio (e primeira semana de Junho) teremos um novo ciclo de cinema. Desta vez dedicado à imagem. Vamos abordar não só a fotografia, como sobretudo ver e aprender as várias formas de comunicação através da imagem.
Primeira sessão - 8 de Maio de 2007
Os filmes têm a sua origem no visor da câmara! A sua forma rectangular coloca limites a um mundo imaginário. O cineasta é um homem com visão, que aprendeu a ver por um olho mecânico. Como na pintura, a composição fotográfica exige equilíbrio, tensão e uma orquestração de linhas e massas. Da percepção quotidiana o cinema conserva o movimento, à pintura vai buscar o enquadramento. Um filme é uma sucessão de imagens ou planos que, se o Realizador é digno desse nome, são enquadrados com rigor.
Por outro lado, fotografar significa “escrever com luz”. É portanto saber captar a luz – principio vital da imagem – consoante a direcção e orientação do Sol ou de qualquer outra fonte luminosa. ”A imagem é pois aquilo que se destaca nesse quadro vivo do fundo escuro da sala de cinema. O espectador é dirigido para lá e “obrigado” a concentrar-se num feixe que se dirige para o rectângulo do ecrã. Sendo assim, é sensato dizer-se que a imagem, ou a fotografia de um filme é uma forma dominante de expressão ou de comunicação. A riqueza de uma imagem depende muito da imaginação e criatividade que o fotógrafo põe na sua composição, isto é na maneira como ele:
- determina o lugar do assunto principal
- evita que os motivos secundários se sobreponham ao motivo principal
- elimina as zonas inexpressivas e vazias
- Trata os diversos elementos estruturais (iluminação, cor, planos, ângulos e enquadramento
Essa comunicação – pela imagem – pode ser dada através de variadas formas, na maior parte não uma de cada vez, mas somando as mais variadas técnicas.
Comunicação pela imagem, expressão pela imagem, manifestação através da imagem, são termos utilizados muitas vezes e que no fundo vão dar todos à famosa frase “uma imagem vale mais que mil palavras”
Vamos hoje ver alguns filmes em que os Realizadores, encontraram na imagem a sua forma preferida de expressão. Não descuraram certamente os outros aspectos formais da obra, digo a montagem, os décores, o guarda roupa, o argumento, etc. Não. Mas como vão perceber, foi em primeiro lugar pela imagem que eles comunicaram qualquer coisa- um sentimento, uma emoção, um conflito, uma ideia. Vamos aqui deixar algumas “pistas” de comunicação não verbal que certamente encontrarão ao longo da sessão nos diversos filmes que vão ser exibidos. E será certamente um bom exercício identificar algumas destas formas de comunicação:
Postural corporal
Gestos
Tom, volume, ritmo, dicção
Contacto ocular
Expressão facial
Espaço interpessoal/distância/movimento
Imagem: a utilização da linguagem cinematográfica
Os filmes da primeira sessão
1-Clean Man, de Alessandro Palazzi – 7 minutos
Com Massimo Ferroni, Tristano Capucci, John Paul Neneria
Produção: Alessandro Palazzi
Fotografia: Mauro Falomi
Musica: Óscar Greco
Clean man
2- Joy Meal, de Mathisjs Geijskes – 7 minutos
Com Freerk Bos e Carolien van Houten
Produção: Sherman de Jesus/Memphis Film
Argumento: Mathijs Geijskes
Fotografia: Philip Hering
Montagem: Job ter Burg
Musica: Rens Machielse
Joy meal
3-Stop!, de Mathisjs Geijskes – 6 minutos
Produção: Tom burghard/Corona Pictures
Argumento: Mathisjs Geijskes
Fotografia: Bert Pot
Montagem: Job Ter Burg
Musica: Rens Machielse
Stop
4-L’ultimo pistolero, de Alessandro Dominici – 8 minutos
Com Franco Nero
Argumento: Sebastiano Ruiz Mignone
Fotografia: Alessandro Dominici
Montagem: Alberto Micelotta
Musica: Ennio Morricone
O último pistoleiro
5-What,the…, de Simon Ellis – 7 minutos
Com Tim Cunningham, Catherine Mckeever Ben
Argumento: Tim Cunning/Simon Ellis
Fotografia e Montagem: Simon Ellis
Musica: Tom Bailey
6-O Décimo Punhal, de Vítor Moreira – 23 minutos
Segunda sessão - Terça feira dia 15 de Maio de 2007
As Cores e a plasticidade
Filme “Do fundo do coração” de Francis Ford Coppola
Com Frederic Forrest e Teri Garr
Argumento: Armyan Bernstein e Francis Ford Coppola
Música: Teddy Eduards e Tom Waits
Fotografia: Vittorio Storaro e Ronald Vítor Garcia
Montagem: Rudi Fehr, Anne Goursaud, Randy Roberts
Produção: Gray Frederickson, Fred Roos
Realização: Francis Ford Coppola
Filme “Do fundo do coração” de Francis Ford Coppola
Com Frederic Forrest e Teri Garr
Argumento: Armyan Bernstein e Francis Ford Coppola
Música: Teddy Eduards e Tom Waits
Fotografia: Vittorio Storaro e Ronald Vítor Garcia
Montagem: Rudi Fehr, Anne Goursaud, Randy Roberts
Produção: Gray Frederickson, Fred Roos
Realização: Francis Ford Coppola
No início dos anos 80, Francis Ford Coppola quase foi à falência com a produção deste filme. Trata-se de uma fantasia romântica em tom de opereta moderna, mas profundamente alicerçada na nostalgia e na memória do clássico cinema americano. Coppola gastou uma fortuna em décors delirantes e criou uma das mais notáveis extravagâncias cinematográficas da década. Absolutamente deslumbrante na sua dimensão visual e estética e construida com tecnologia revolucionária para a época, Do Fundo do Coração é, no limite, um acto de pura paixão cinematográfica. Uma fábula moderna sobre os encontros e desencontros do amor, sob os reflexos feéricos do néon de Las Vegas e sob a inesquecível música de Tom Waits. Um filme único e admirável, onde mestre Coppola retoma o dejá vu numa forma absolutamente inesperada e original.
A rodagem combinava fases que tradicionalmente eram posteriores. No caravana de onde dirigia a rodagem, o "Silverfish", o equipamento de montagem (havia também jacuzi...) e um sistema complexo de monitores e gravadores de vídeo (ligado às câmaras de filmar do director de fotografia Vittorio Storaro) permitiam a Coppola ver logo o material acabado de filmar, eliminando o tempo de espera das "rushes", e fazer logo a pré-montagem numa fase que tradicionalmente era ainda de produção.
A rodagem combinava fases que tradicionalmente eram posteriores. No caravana de onde dirigia a rodagem, o "Silverfish", o equipamento de montagem (havia também jacuzi...) e um sistema complexo de monitores e gravadores de vídeo (ligado às câmaras de filmar do director de fotografia Vittorio Storaro) permitiam a Coppola ver logo o material acabado de filmar, eliminando o tempo de espera das "rushes", e fazer logo a pré-montagem numa fase que tradicionalmente era ainda de produção.
Terceira sessão – Terça feira dia 22 de Maio de 2007
As formas, os volumes e os enquadramentos
Filme “Disponível para amar ” de Wong Kar-Wai
CANNES 2000 – Best Actor award, Grand Prix Technique
Com Tony Leung e Maggie Cheung
Argumento: Wong Kar-Wai
Música: Michael Galasso
Fotografia: Christopher Doyle/Mark Li Ping
Montagem: William Chang Suk-ping
Produção: e Realização: Wong Kar-Wai
Disponível para amar é uma espécie de melodrama que funciona ao contrário da tradição. Aqui, o par romântico - Chow (Tony Leung) e Li-Zhen (Maggie Gheung) - não é dos cônjugues adúlteros. Ou seja: são a mulher dele e o marido dela que, de facto, andam envolvidos um com o outro. Chow e Li-Zhen aproximam-se como se fossem sombras dos seus companheiros ausentos, fantasmas das suas próprias histórias. Deambulando por cenários encantados, olham-se e cruzam-se como se fosse impossível tocarem-se ou envolverem-se em qualquer troca explicitamente sexual tudo se passa como se Chow e Li-Zhen fossem personagens suspensos das melodias românticas que se ouvem na banda sonora (Nat King Cole, Bryan Ferry, etc.).Com Chungking Express (1994), Wong Kar-Wai mostrára que o seu universo não é estranho ao apelo musical. Agora, em Disponível para amar, o seu cinema aproxima-se da dinâmica poética do género musical, onde as personagens existem como emanação da música e do canto; vivem no ecrã como se habitassem um sonho sonhado por um deus ausente.
Os meus filmes são feitos a partir da adição de pequenos bocados. Trabalho por segmentos, sem saber propriamente à partida os laços que os unem, ou a sua ordem na narração. Durante a montagem ensaio uma série de combinações. É como um 'puzzle' de que não conheço a ordem, mas de que as peças se juntam pouco a pouco. E, no fim, descubro o conjunto", diz Wong Kar-wai.
Em Disponível para amar, o cineasta conjuga criatividade e beleza numa história de amor, que é ao mesmo tempo o retrato fiel de uma sociedade, a Hong Kong dos anos 60. Disponível para amar é uma espécie de melodrama que funciona ao contrário da tradição. Aqui, o par romântico - Chow (Tony Leung) e Li-Zhen (Maggie Gheung) - não é dos cônjugues adúlteros. Ou seja: são a mulher dele e o marido dela que, de facto, andam envolvidos um com o outro. Chow e Li-Zhen aproximam-se como se fossem sombras dos seus companheiros ausentos, fantasmas das suas próprias histórias
Os meus filmes são feitos a partir da adição de pequenos bocados. Trabalho por segmentos, sem saber propriamente à partida os laços que os unem, ou a sua ordem na narração. Durante a montagem ensaio uma série de combinações. É como um 'puzzle' de que não conheço a ordem, mas de que as peças se juntam pouco a pouco. E, no fim, descubro o conjunto", diz Wong Kar-wai.
Em Disponível para amar, o cineasta conjuga criatividade e beleza numa história de amor, que é ao mesmo tempo o retrato fiel de uma sociedade, a Hong Kong dos anos 60. Disponível para amar é uma espécie de melodrama que funciona ao contrário da tradição. Aqui, o par romântico - Chow (Tony Leung) e Li-Zhen (Maggie Gheung) - não é dos cônjugues adúlteros. Ou seja: são a mulher dele e o marido dela que, de facto, andam envolvidos um com o outro. Chow e Li-Zhen aproximam-se como se fossem sombras dos seus companheiros ausentos, fantasmas das suas próprias histórias
Quarta sessão – Terça feira dia 29 de Maio de 2007
A Câmara fala?
“A Janela indiscreta ” de Alfred Hitchcock - 1955
Com James Stewart e Grace Kelly
Argumento: John Michael HayesBaseado numa novella de Cornell Woolrich
Música: Franz Waxman
Fotografia: Robert Burks
Montagem: George Tomasini
Produção: e Realização: Alfred Hitchcock para a Paramount
Com James Stewart e Grace Kelly
Argumento: John Michael HayesBaseado numa novella de Cornell Woolrich
Música: Franz Waxman
Fotografia: Robert Burks
Montagem: George Tomasini
Produção: e Realização: Alfred Hitchcock para a Paramount
* Alfred Hitchcock – “Tratava-se da possibilidade de fazer um filme puramente cinematográfico. Há o homem imóvel a olhar lá para fora. É o primeiro bocado do filme. O segundo bocado revela o que ele vê e o terceiro mostra a sua reacção. Isto representa a mais pura expressão da ideia cinematográfica que conhecemos(….)
Pegamos num grande plano de James Stewart. Olha pela janela e vê, por exemplo, um cãozinho que alguém desce para o pátio dentro de um cesto; voltamos a Stewart: sorri. Agora, em vez do cãozinho a descer o cesto, mostramos uma rapariga nua a contorcer-se diante da sua janela aberta; voltamos a colocar um grande plano de James Stewart a sorrir e, agora, o que vemos é um tipo lúbrico!!! (…)
François Truffaut – A apresentação do filme é excelente. Inicia-se com o pátio adormecido, depois desliza para o rosto de Stewart coberto de suor, passa à perna envolta em gesso, depois à mesa onde se vê a máquina fotográfica partida e uma pilha de revistas ilustradas e, na parede, vêem-se fotografias de carros de corridas a virar-se. Por este primeiro movimento de câmara ficamos a saber onde estamos, quem é a personagem, qual a sua profissão e o que lhe aconteceu(…)
Alfred Hitchcock – Trata-se de utilizar os meios de que o cinema dispõe para contar uma história. Interessa-me mais do que pôr alguém a perguntar a Stewart: como é que partiu a perna? Stewart responderia: “estava a fotografar uma corrida de automóveis, uma roda soltou-se e veio atingir-me”. Não é verdade? Seria a cena banal. Para mim o pecado mortal de um guionista é, na discussão de uma dificuldade, escamotear o problema dizendo: “Justificaremos isto com uma linha de diálogo”. O diálogo deve ser um ruído entre outros, um ruído que sai da boca das personagens cujas acções e cujos olhares contam uma história visual(…)
* Hitchcock, dialogo com Truffaut – Publicações D. Quixote, Lisboa 1987
Pegamos num grande plano de James Stewart. Olha pela janela e vê, por exemplo, um cãozinho que alguém desce para o pátio dentro de um cesto; voltamos a Stewart: sorri. Agora, em vez do cãozinho a descer o cesto, mostramos uma rapariga nua a contorcer-se diante da sua janela aberta; voltamos a colocar um grande plano de James Stewart a sorrir e, agora, o que vemos é um tipo lúbrico!!! (…)
François Truffaut – A apresentação do filme é excelente. Inicia-se com o pátio adormecido, depois desliza para o rosto de Stewart coberto de suor, passa à perna envolta em gesso, depois à mesa onde se vê a máquina fotográfica partida e uma pilha de revistas ilustradas e, na parede, vêem-se fotografias de carros de corridas a virar-se. Por este primeiro movimento de câmara ficamos a saber onde estamos, quem é a personagem, qual a sua profissão e o que lhe aconteceu(…)
Alfred Hitchcock – Trata-se de utilizar os meios de que o cinema dispõe para contar uma história. Interessa-me mais do que pôr alguém a perguntar a Stewart: como é que partiu a perna? Stewart responderia: “estava a fotografar uma corrida de automóveis, uma roda soltou-se e veio atingir-me”. Não é verdade? Seria a cena banal. Para mim o pecado mortal de um guionista é, na discussão de uma dificuldade, escamotear o problema dizendo: “Justificaremos isto com uma linha de diálogo”. O diálogo deve ser um ruído entre outros, um ruído que sai da boca das personagens cujas acções e cujos olhares contam uma história visual(…)
* Hitchcock, dialogo com Truffaut – Publicações D. Quixote, Lisboa 1987
Quinta sessão – Terça feira dia 05 de Junho de 2007
O Preto e branco. Comunicar pela imagem II
“O Ultimo dos homens ” de F.W.Murnau - 1925
Com Emil Jannings
Argumento: Carl Mayer
Música: Giuseppe Becce
Fotografia: Karl Freund
Produção: Erich Pommer
Realização: F.W.Murnau
“O Ultimo dos homens ” de F.W.Murnau - 1925
Com Emil Jannings
Argumento: Carl Mayer
Música: Giuseppe Becce
Fotografia: Karl Freund
Produção: Erich Pommer
Realização: F.W.Murnau
Filme mudo, sem intertítulos (se exceptuarmos o que introduz o final. Primeira reunião de Murnau com o actor Emil Jannings, com que filmaria dois anos depois Tartufo e Fausto, O Último dos Homens concentra-se numa só figura e nos efeitos que a sua desvalorização profissional tem na sua vida.
Do filme retemos os cenários, todos eles com a sua relevância particular, seja o bairro onde o porteiro vive e o prédio onde podemos observar explicitamente a mudança de atitude dos seus vizinhos perante a sua despromoção, ou o hotel com a sua simbólica porta giratória, os seus corredores, escritório e lavabos.
Há quem veja em O Último dos Homens um reflexo alegórico da própria Alemanha, afundada na humilhação infringida pelos duros termos do Tratado de Versailles que pusera termo à Primeira Guerra Mundial (1919), o que faz algum sentido.A visão desencantada do realizador projectou inicialmente um final diferente daquele que veio a ser filmado por imposição da produtora: um epílogo que concretiza um “happy end”, em que o “último dos Homens se torna o primeiro”. É verdade que esse término optimista parece corromper todo o tom psicologicamente fechado da obra, mas nem por isso deixa de possuir o seu encanto particular sem retirar mérito ao conjunto.
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